O Acordo de Paz com as FARC: Um Enigma Político e uma Realidade Complexa
- Fernando Montenegro
- há 12 minutos
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Hoje, quero compartilhar com vocês uma perspectiva sobre um tema que dominou as manchetes globais em 2016: o acordo de paz assinado entre o governo colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas). Após conversar com militares, policiais e cidadãos que viveram a realidade do país, cheguei a conclusões que, como vocês verão, são bastante diferentes da narrativa oficial que o então presidente Juan Manuel Santos utilizou para receber o Prêmio Nobel da Paz.
O Cenário de Violência e Conflito que a Colômbia Enfrentou
A violência na Colômbia tem raízes na Guerra Fria, quando a tentativa de exportar a ideologia comunista levou ao surgimento de grupos guerrilheiros
como as FARC, o ELN e o M19. Essa fase inicial foi marcada por patrocínio e assessoria de cubanos. Nos anos 80, o narcotráfico, impulsionado por figuras como Pablo Escobar e o Cartel de Medellín, e posteriormente pelo Cartel de Cáli, escalou a violência a níveis inimagináveis.
Houve uma época em que os cartéis entravam em guerra entre si e com o Estado. Lembro que o M-19 chegou a realizar um ataque espetacular contra o Palácio da Justiça, patrocinado por Escobar, que resultou em uma ação militar com muitas mortes. No final de 1989, esse grupo depôs as armas, e a maioria de seus membros se tornou taxista.
Com a ajuda da DEA (Drug Enforcement Administration) dos EUA, os cartéis de Medellín e de Cáli foram derrotados. Essa vitória coincidiu com o fim da URSS, o que cortou o financiamento das guerrilhas. Sem um vácuo de poder, as FARC e o ELN, que já prestavam serviços de segurança aos cartéis, se tornaram "narcoguerrilhas", mas mantiveram a ideologia para controlar suas tropas. Eles se financiavam com sequestros e "vacunas" (extorsão), além de estimular pequenos agricultores a plantar coca para eles.
A Era Uribe e a Derrota Militar das FARC
Apesar do apoio dos EUA na década de 90, o enfraquecimento das FARC só se tornou significativo com o empenho pessoal do presidente Álvaro Uribe, que governou de 2002 a 2010. Uribe era da região de Antióquia e seus pais haviam sido mortos por guerrilheiros. Ele ordenava pessoalmente que as Forças Armadas e a polícia colombiana atuassem com mais vigor, chegando a destituir generais e coronéis que não apresentavam resultados.
Essa pressão de cima para baixo gerou resultados militares contundentes. No entanto, também surgiram efeitos colaterais trágicos, como os "falsos positivos". Muitos militares foram presos por matar civis e apresentá-los como guerrilheiros para cumprir cotas de mortos. Ouvi diretamente o relato de um militar que se recusou a participar dessas ações.
O Acordo de Paz de Santos e as Consequências Inesperadas
Juan Manuel Santos, então Ministro da Defesa de Uribe, recebia os créditos pelas vitórias sobre as guerrilhas. Quando Santos assumiu a presidência, seu objetivo pessoal era ganhar o Prêmio Nobel da Paz, e ele iniciou negociações secretas com a guerrilha.
Foi aí que a situação mudou drasticamente. As FARC, que não haviam conseguido vitórias em 50 anos de combate, conseguiram tudo o que queriam na mesa de negociações:
Impunidade e anistia para os narcoterroristas.
Manutenção do financiamento pelo narcotráfico, com a área de plantio de coca triplicando.
Verbas para propaganda política.
A garantia de 10 assentos no Congresso (cinco na Câmara de Deputados e cinco no Senado) por dois mandatos consecutivos.
Enquanto Santos era celebrado por "fazer a paz", o país se deteriorava. A criminalidade e os homicídios explodiram. As negociações de paz foram permissivas com o aumento das áreas de plantio de coca, que saltaram de 44 mil hectares em 2014 para 188 mil hectares em 2018~ (o cultivo de coca diminuiu desde então, mas o problema persiste sob novas dinâmicas, o que demonstra a complexidade do cenário). A anistia concedida aos líderes das FARC, enquanto cerca de 12 mil militares e policiais continuavam presos, gerou uma grande desconfiança e omissão das Forças Armadas.
A Realidade do Crime Organizado na Colômbia
O cenário de segurança na Colômbia é uma "sopa de letrinhas" de facções armadas e financiadas pela cocaína. A maioria dos narcotraficantes não quis virar motorista de táxi como os membros do M-19. Por isso, houve uma grande dissidência nas fileiras das FARC, que não aceitaram o acordo de paz e continuaram com ações violentas. Algumas dessas dissidências, na verdade, continuam recebendo ordens do Secretariado das FARC, que agora é um partido político. Em 2021, o partido mudou de nome para "COMUNES" para se desassociar da imagem da guerrilha.
A impunidade para os guerrilheiros fez com que a criminalidade explodisse. A "ordem" de evitar confrontos para "proteger" o acordo de paz levou ao descontrole nos índices de violência. As rotas de narcotráfico, que levam a cocaína para o mercado consumidor nos EUA, são controladas por suborno e chantagem de autoridades. As rotas para o Brasil são disputadas pelo Comando Família do Norte e pelo PCC. É um sistema de simbiose: drogas por armas e drogas por dinheiro.
A Crítica Pública e o Legado Controverso
O descontentamento da população com o acordo se refletiu na eleição de Duque, candidato apoiado por Uribe e um crítico feroz da forma como Santos "comprou" seu Nobel da Paz. Chega-se à conclusão de que o acordo de paz foi, na verdade, um embuste para alimentar o ego de Juan Manuel Santos. Enquanto o país sofre, o milionário presidente parece não se preocupar, apenas celebrando seu prêmio.
Planejamento Financeiro de Negócios e o Custo da Desigualdade
A instabilidade na Colômbia afeta diretamente o ambiente de negócios. Para quem atua no mercado financeiro, a segurança pública é um fator crítico para o planejamento financeiro de negócios. A violência descontrolada e a corrupção geram riscos que podem comprometer qualquer investimento. A gestão de riscos se torna ainda mais complexa em um cenário como o colombiano, onde o Estado se omite diante do crime organizado. A falta de um verdadeiro "acordo de paz" com a criminalidade dificulta o desenvolvimento econômico e o crescimento de empresas, que precisam gastar recursos com segurança privada e estratégias para mitigar a insegurança. Um ambiente assim não é propício para startups ou para finanças pessoais seguras. A história da Colômbia serve como um lembrete sombrio de que a paz genuína é um ativo inestimável, e a desigualdade social, que ainda persiste, é um passivo que custa caro a todos.
As FARC Hoje: Uma Realidade de Dissidência e Conflito Contínuo
Atualmente, as FARC, enquanto organização política formal, permanecem desmobilizadas desde o acordo de paz de 2016, mas suas dissidências armadas continuam a representar uma ameaça significativa à segurança na Colômbia. O grupo mais ativo, o Estado-Maior Central (EMC), liderado por Marlon Vásquez, reivindicou recentemente uma série de ataques violentos com carros-bomba e drones que deixaram mortos e feridos em Cali e arredores. Essas facções dissidentes, que rejeitaram o acordo de paz, mantêm alianças com redes de narcotráfico e disputam territórios estratégicos com outras guerrilhas como o ELN, especialmente em regiões como Catatumbo, onde o controle da rota da cocaína é central. Politicamente, o partido derivado das FARC, Comunes, enfrenta marginalização e perda de influência, enquanto o governo de Gustavo Petro tenta equilibrar negociações de paz com ações militares diante da crescente violência.
Fernando Montenegro
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