Venda de sentenças no STJ: o escândalo que ameaça a confiança no Judiciário
- Fernando G. Montenegro

- 22 de out.
- 3 min de leitura

Quando a toga se suja: o que o caso Buzera revela sobre os bastidores do poder no Brasil
No fim de 2023, o assassinato brutal do advogado Roberto Zampieri, executado com dez tiros em frente ao próprio escritório em Cuiabá, parecia mais um crime encomendado. Mas o que a Polícia Federal encontrou no celular da vítima transformou o caso em algo muito maior: a porta de entrada para um dos maiores escândalos do Judiciário brasileiro.
Mensagens trocadas com assessores de quatro ministros do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) revelaram uma rede de contatos suspeitos. A partir daí, a PF puxou o fio e descobriu um esquema de venda de sentenças no STJ que movimentava cifras bilionárias. Sim, bilionárias.
Três frentes, um só objetivo: vender decisões judiciais
A investigação revelou uma organização criminosa estruturada em três núcleos: assessores de ministros, lobistas que negociavam as sentenças e empresários interessados em decisões favoráveis. Os lobistas chegavam a enviar os textos prontos para os gabinetes dos ministros. Tudo era feito com discrição: mensagens criptografadas, celulares em nome de laranjas, cartões de crédito para disfarçar propinas.
Segundo a Polícia Federal, o esquema envolvia não apenas corrupção, mas também espionagem e homicídios por encomenda. O grupo, que se autodenominava “Comando C4” (Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos), mantinha até uma tabela de preços para assassinatos, com valores que variavam conforme o cargo da vítima. Um ministro custava até R$ 250 mil.
O silêncio nos gabinetes e a blindagem institucional
Apesar das evidências, nenhum ministro do STJ foi formalmente investigado até agora. Ainda assim, o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por apurar crimes envolvendo autoridades com foro privilegiado. Recentemente, surgiram indícios de que assessores de mais quatro ministros podem estar envolvidos.
A pergunta que não quer calar: como um esquema tão complexo, com tantos envolvidos, pode ter operado sem o conhecimento — ou a conivência — de quem ocupa os cargos mais altos da Justiça? A resposta ainda não veio. Mas o silêncio dos gabinetes começa a incomodar.
O Judiciário sob suspeita — e a democracia em risco
A Justiça é o último bastião da democracia. Quando ela se torna refém de interesses privados, o Estado de Direito entra em colapso. O caso Zampieri não é apenas sobre corrupção. É sobre a erosão da confiança pública nas instituições. É sobre a sensação de que, no Brasil, a lei tem preço — e quem pode pagar, manda.
A Operação Sisamnes, que já teve sete fases, prendeu dezenas de envolvidos e ainda está longe de terminar. Novas pistas surgem a cada semana: empréstimos de aviões para autoridades, indicações de magistrados para cargos públicos, movimentações financeiras suspeitas.
O Brasil precisa de respostas — e de coragem institucional
O nome da operação é simbólico. Sisamnes foi um juiz persa que, segundo a história, foi executado por corrupção e teve sua pele usada para forrar a cadeira do próximo magistrado. A mensagem é clara: quem julga precisa ser julgado com o mesmo rigor.
O Brasil precisa de respostas. Precisa de transparência. Precisa de coragem institucional para investigar até onde for necessário — inclusive dentro dos tribunais superiores. Porque quando a Justiça se vende, o país inteiro paga a conta.
Conclusão: Não é exagero dizer que esse escândalo pode ser um divisor de águas. Ou enfrentamos a verdade com firmeza, ou aceitaremos viver num país onde a sentença mais cara vence — e a justiça, essa sim, é que morre com dez tiros no peito.
Fernando G. Montenegro
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