A Evolução da Guerra Híbrida para a Era Digital: Uma Ameaça em Tempos de Paz
- Fernando Montenegro
- 3 de ago.
- 5 min de leitura

Ao refletir sobre as próximas décadas, percebo que as guerras estão evoluindo de uma forma que muitos de nós mal conseguimos acompanhar. A Guerra Híbrida de hoje é um conceito abrangente que explora o combate em várias dimensões, algo que alguns de nós chamam de guerras não militares.
Uma dessas vertentes é a guerra cibernética, que pode neutralizar ou degradar uma vasta gama de equipamentos técnicos do inimigo. Lembro que, no início dos anos 2000, os Estados Unidos e a OTAN atacaram sistemas eletrônicos em outros países. Hoje, vemos um exemplo muito mais recente e alarmante: no conflito entre Rússia e Ucrânia, os ataques cibernéticos têm sido uma tática crucial, visando infraestruturas críticas, como redes de energia e sistemas governamentais, para causar instabilidade e desorganização.
Quando discutimos o termo "guerra cibernética" hoje, não estamos mais falando apenas de conflitos declarados. O termo remete a manobras agressivas no ciberespaço que ocorrem em tempos de paz. O que me preocupa é que, embora essas ações ainda sejam limitadas, a arma cibernética pode ser o gatilho para um colapso completo da sociedade moderna. Pense em um ataque capaz de desativar os sistemas de informação que regem nosso cotidiano: militar, saúde, bancos, transporte e energia. Um ataque como esse poderia causar um apagão generalizado e levar uma sociedade ao colapso sem disparar uma única bala. No entanto, eu sei que existem armas cibernéticas limitadas, mas extremamente eficazes, como o vírus Stuxnet, lançado em 2010 contra centros nucleares iranianos, que destruiu milhares de computadores.
Outra forma de ação agressiva que vejo acontecer são os ataques a sistemas de informação para roubo de dados, como a invasão aos sistemas do Pentágono. E o que me surpreende é que esse tipo de ataque não é feito apenas por nações, mas também por indivíduos ou pequenos grupos. Não é por acaso que os países mais desenvolvidos levam a segurança cibernética a sério. Percebo esse compromisso em ações como a do Brasil, que em seu Livro Branco da Defesa (2010) direcionou a liderança da segurança cibernética ao Exército Brasileiro, ou da França, que desde 2008 priorizou o aporte de recursos financeiros para este segmento.
A Nova Fronteira da Guerra Híbrida: Drones, Tecnologia e Conflitos Modernos
A forma como as guerras são travadas está mudando, e isso é algo que me fascina. Os campos de batalha estão cada vez mais fragmentados, permitindo que novos tipos de armas cheguem a pequenos grupos de combatentes. A dinâmica da internet facilitou a difusão de técnicas de emprego militar, algo que, por décadas, era mantido em sigilo. Essa nova realidade define o que muitos chamam de Guerra Híbrida.
Um exemplo marcante dessa evolução são os drones. Inicialmente considerados inofensivos, eles se espalharam rapidamente, impulsionados pela já existente indústria de aeromodelismo. Vejo que em breve, conflitos como aqueles entre o Hezbollah e Israel poderão ser travados no espaço aéreo por drones armados. No Brasil, já vemos facções de crime organizado usando drones comerciais para infiltrar celulares em presídios, lançar explosivos improvisados sobre rivais e reconhecer territórios a serem invadidos. Essas novas tecnologias são mais leves, mais acessíveis e criam uma assimetria nos conflitos modernos que eu nunca imaginaria ser possível. Até mesmo, equipamentos de bloqueio de sinal de controle de drones estão sendo capturados naa favelas cariocas, e indicam que também já usam medidas preventivas contra esses vetores.
Para mim, a assimetria dos conflitos é evidente. Enquanto para fabricar um helicóptero são necessárias milhares de pessoas e uma indústria complexa, forças irregulares não precisam de armas sofisticadas. Eles precisam de fuzis e mísseis portáteis, armas que, infelizmente, proliferam por todo o planeta.
As Epidemias e a Guerra das Narrativas: A Batalha pela Mente das Pessoas
Apesar de as manchetes raramente falarem sobre agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares (CBRN), eu não acredito que essa vertente seja obsoleta. As epidemias, como a do Coronavírus, nos mostraram que devemos ter militares e profissionais preparados mesmo em tempos de paz. Essas crises são um lembrete de que certas hipóteses não podem ser descartadas. Uma pessoa mentalmente perturbada, uma facção terrorista ou um líder acuado podem usar esses vetores de forma inconsequente.
Outra dimensão de combate que me interessa profundamente é a guerra cognitiva. Ela abrange a guerra de narrativas e operações psicológicas, onde o objetivo é disputar a percepção predominante nos corações e mentes das pessoas. Em uma democracia, isso é fundamental, pois interfere diretamente nas urnas. Eu entendo por que facções como FARC-EP, ELN, Daesh e Al-Qaeda investem em profissionais com grande domínio de TI e publicidade. Eles sabem que não basta enviar mensagens com erros. Eles produzem vídeos e mensagens de alta qualidade, que eu compararia com a da Netflix.
O Equilíbrio entre o Passado e o Futuro: Armas Convencionais e o Espaço
Apesar de todas essas evoluções, eu acredito que as armas convencionais ainda têm seu lugar. Aviões de caça, carros de combate e fragatas continuam sendo importantes. A indústria bélica, no entanto, precisou se adaptar, tornando esses equipamentos mais flexíveis e inteligentes para os novos formatos de conflito.
Com as armas nucleares, eu vejo um paradoxo. Elas têm pouca chance de serem usadas, mas a própria existência delas garante um estranho equilíbrio. Países gastam orçamentos respondendo a suposições que não são atuais, mas precisam fazê-lo, pois se abandonarem essa capacidade, a suposição pode se tornar real. As tecnologias militares, como eu sei, levam muito tempo para serem produzidas, exigindo competência, planejamento e logística com muita antecedência. Abandonar setores da indústria e da pesquisa científica nuclear, por exemplo, significaria perder conhecimento e ficar defasado por anos ou até décadas.
A dimensão espacial também é cada vez mais relevante. Em 2019, eu vi os Estados Unidos criarem o Comando Espacial, uma clara militarização do espaço. Donald Trump afirmou que "o espaço é o mais novo domínio de guerra do mundo". No mesmo ano, a França anunciou a criação de sua Força Espacial. As reações da China e da Rússia, que acusaram a violação do consenso internacional sobre o uso pacífico do espaço, mostram a seriedade do tema. A prioridade para mim é clara: a maior parte dos nossos sistemas de informação depende de satélites, e em caso de guerra, os sistemas espaciais seriam um dos principais alvos.
Cenários de Risco: Migração, Meio Ambiente e a Disputa por Recursos
Eu vejo que as estatísticas indicam novos fatores de risco para as próximas duas décadas. As migrações, que alguns na Europa já chamam de "bomba humana" desde a intensificação a partir de 2015, são um exemplo. Os números da ONU revelam que há cerca de 250 milhões de migrantes internacionais, sendo mais de 68 milhões em deslocamento forçado. Vi de perto como o Brasil e a Colômbia receberam milhões de refugiados da Venezuela, em uma crise que demandou uma grande estrutura logística para ser gerenciada.
As mudanças ambientais também são fatores de instabilidade. Eu prevejo futuras "guerras alimentares" e "guerras pela água". Não sabemos como alimentar os 9 a 10 bilhões de habitantes da Terra em 2050. A apropriação de áreas ricas em recursos naturais, como energia e alimentos, será uma questão central. A disputa pelo conhecimento de ponta também será acirrada, porque o acesso à tecnologia é um fator de poder e, portanto, uma fonte de futuros conflitos.
Conclusão: Preparando-se para o Futuro, hoje!
Para mim, fica claro que a preparação é a chave. É essencial que os líderes sejam bem assessorados para anteverem cenários e garantirem que os países tenham as capacidades mínimas para responder aos desafios que se apresentam, especialmente na era da Guerra Híbrida. Eu acredito que as instituições atuais devem buscar ser cada vez mais versáteis, com a capacidade de atuar em diversos contextos com o menor custo possível. O futuro do combate é complexo e multifacetado, e é nosso dever estar prontos.
Fernando Montenegro
Qualquer Missão Em Qualquer Lugar
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