Ocupação Complexo do Alemão: A Verdade que Você Precisa Saber para Entender a Segurança Pública no Brasil
- Fernando G. Montenegro
- há 6 dias
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A Ocupação Complexo do Alemão em 2010 foi um marco na história da segurança pública brasileira. Para quem não se lembra, a cinematográfica invasão do dia 25 de novembro de 2010 foi precedida por cerca de dez dias de ataques violentos desencadeados por criminosos do Comando Vermelho na cidade. O terrorismo criminal de confrontação ao Estado foi uma reação à transferência de um dos líderes da facção criminosa para um presídio de segurança máxima.
Em vez de ser uma operação puramente de segurança, na minha opinião, a principal finalidade da mega-operação de guerra foi dar uma satisfação à opinião pública internacional, numa sinergia inédita das Forças Armadas com o Executivo e o Judiciário. O timing era crucial, pois o Brasil se preparava para sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
O Verdadeiro Alvo: A Opinião Pública Internacional
A comunidade internacional precisava de uma imagem de um Rio de Janeiro pacificado para que os megaeventos ocorressem. Políticos e a imprensa brasileira, interessados nos direitos de transmissão e em desvios (o famigerado "Caixa 2"), minimizavam os riscos e faziam questão de dizer que eram apenas exageros. O resultado foi uma sucessão de superfaturamentos absurdos, com alguns criminosos presos. Lamentavelmente, o que se viu em seguida foi a justiça se desmoralizando, ao soltar criminosos ricos que, através de seus caríssimos advogados, tinham livre trânsito para 'comprar' tribunais de instâncias superiores.
É aqui que a Ocupação Complexo do Alemão se torna um estudo de caso sobre a fragilidade institucional. O evento foi uma operação de guerra tática bem-sucedida, mas o problema residiu no Investimento em Segurança Pública a longo prazo, após a saída das tropas.
A Corrupção e a Fragilidade da Transição
Os diferentes níveis do Poder Executivo (Municipal, Estadual e Federal) preocuparam-se apenas em garantir os eventos, negligenciando um planejamento adequado para a transição. Nós, do Exército, após mais de um ano e meio de ocupação do Complexo do Alemão, fomos substituídos por policiais inexperientes, mal equipados e instalados em estruturas improvisadas de contêineres sem blindagem. Sem segurança, os projetos sociais e as possíveis melhorias desandaram e se perderam.
A irresponsabilidade e ganância dos políticos brasileiros foram confirmadas. Para agravar o quadro, o componente da Corrupção Pública não apenas persiste, mas se atualiza: hoje, o Brasil vive o debate sobre o desmonte da Operação Lava Jato, que completou 10 anos em março de 2024, com muitos de seus resultados e prestígio abalados por anulações e questionamentos sobre abusos jurídicos. Isso valida o ponto de que a impunidade se mantém como estímulo para gangsters no protagonismo político. O tema do Compliance Empresarial nunca foi tão vital para quem busca evitar o envolvimento em esquemas.
O Legado da Ocupação Complexo do Alemão: Da Esperança à Irresponsabilidade
O símbolo mais claro do descaso é o Teleférico do Complexo do Alemão. Inaugurado em julho de 2011, enquanto o Exército ocupava a região, este modal de transporte proporcionou grande mobilidade aos moradores, que passaram a fazer em 15 minutos, um percurso que levava mais de uma hora e meia. Este teleférico está parado desde outubro de 2016, ou seja, logo após os Jogos Olímpicos Rio 2016. Nos últimos anos, o que tem ocorrido é uma série de promessas de retorno à operação e alegações de que é necessário o gasto de R$102 milhões para realizar modernização dos equipamentos.
A Ocupação Complexo do Alemão não fracassou na sua missão tática, mas foi sabotada na sua missão estratégica de falta de ação do Estado nas dimensões humana e informacional a médio e longo prazo, sendo um exemplo gritante da falta de Gestão de Riscos e Inteligência Estratégica no planejamento pós-conflito urbano.
A certeza da impunidade, que solta os criminosos de colarinho branco e permite que os gangsters continuem ocupando posições de protagonismo na política carioca, acaba sendo o maior estímulo. Nos últimos 40 anos, estado do Rio de Janeiro teve 5 Governadores presos (Moreira Franco, Garotinho, Rosinha, Cabral e Pezão) e 5 Presidentes da Assembléia Legislativa (ALERJ) presos (Nader, Cabral, Picciani, Paulo Melo e Bacellar). Há um nome em comum na lista: Sérgio Cabral Filho, que foi Presidente da ALERJ e depois Governador do Estado.
Precisamos ir além do tático e focar na Consultoria em Crises e Treinamento de Liderança para mudar a mentalidade política. A luta contra o crime organizado é, na verdade, uma luta contra a má política.
Fernando G. Montenegro
Qualquer Missão Em Qualquer Lugar










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